sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Muito axé para vocês, minha gente:

Acabo de dar umas voltas pela Vila do IAPI. Incógnita, ninguém me reconhece. Algum rádio tocando na vizinhança, até escuto nítida, tão atual, a minha voz de anos atrás. Estou aqui parada, bem em frente ao bloco de apartamentos onde morei com minha família. Uma janela em particular, traz recordações que, ainda hoje, mantêm-se tão vivas em minha memória. Pois é, lembro-me daquele dia quando começava a pregar os olhos para acordar o mais cedo possível e, em seguida, embarcar com meu pai no ônibus da madrugada que nos levaria para o Rio de Janeiro. Então, essa vigília foi interrompida com o murmúrio de algumas vozes bastante conhecidas dos meus ouvidos, ecoando na paz bucólica do subúrbio. Sonolenta, por conta daquela tremenda zoeira, levantei-me para espiar nas frestas da veneziana, a mesma que agora estou fitando do lado de fora. Aí, as luzes do nosso apartamento logo se acenderam todas. Minha mãe Ercy, meu pai Romeu, meu irmão Rogério e minha prima Rosângela acotovelaram-se junto comigo, abrindo a janela do meu quarto. Aqui embaixo, na rua, estava o Glênio Reis dedicando-me aquela serenata de despedida que o Túlio Piva, o Mutinho, o Sérgio Napp, o João Palmeiro e o Luiz Mauro, a turma que muito pastou comigo, preparara com tanto carinho. Convidados, eles entraram em nossa casa e tiveram de se contentar com alguns farroupilhas que a gente tinha para oferecer.
Quanta saudade daquele tempo do Clube do Guri, dos meus dindos Daisy e Ary Rego que acreditaram em mim, preservando-me com seus conselhos decisivos para prosseguir numa carreira que nem tinha sido iniciada. Vocês nem imaginam o quanto lamentei ter de largar aquele convívio lindo paca do programa, ao completar meus quinze anos. Ainda bem que, logo depois, encaixaram-me no Rádio Seqüência, da Farroupilha. Em seguida, vem o Maurício Sobrinho para me convidar a fazer parte do elenco da Rádio Gaúcha. Aí aparece o Astor, da CBS-Colúmbia, insistindo para que eu fosse para o Rio. E, de repente, quando menos espero, estou estreando no programa Noite de Gala, da TV Rio.
Mas que paulada aquele Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, no Primeiro Festival da Música Popular Brasileira de TV Excelsior, em São Paulo. E, como se não bastasse, mais um caneco com Lapinha, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, na Primeira Bienal do Samba. E aquele tremendo show Falso Brilhante, que só foi possível apresentar em São Paulo, tal a grandiosidade da produção.
Em Porto Alegre, fiz a estréia nacional de Transversal do Tempo, espetáculo autobiográfico que se prestou para responder àqueles que diziam eu ter esquecido minhas origens, mesmo tendo projetado obras de autores gaúchos como Raul Elwanger, Jerônimo Jardim, Ivaldo Roque, Jayme Lubianca e Geraldo Flach. E tem aquela do Festival de Jazz de Montreux, em que me digladiei no palco com o maluco do Hermeto Paschoal, cada qual querendo estraçalhar um ao outro, momento mágico como diria o Glênio Reis. Como vocês vêem, tudo aconteceu como uma bola de neve levando-me de roldão pela estrada a fora.
Mas, pôxa, sessenta anos é vapt-vupt. Eu tenho mais é que curtir Maria Rita, meu sangue correndo em suas veias, tomara que corresponda à nossa torcida pelo seu sucesso, aliás, eu quero agradecer toda energia que vocês têm mandado para ela. Enfim, abraço a todos que estão aí nesta bonita festa, bebendo do meu champanhe.
ERCC, 17/MAR/2005.
PS.: Maior cantora brasileira de todos os tempos é a vovozinha, tá?