domingo, 12 de agosto de 2007

* A boa e sempre lembrada nostalgia *


O scratch gaúcho, de pé, da esquerda para a direita: 
Tesourinha, Rui, Massinha, Fogo, Carlitos e o treinador Telêmaco
 Ajoelhados: Noronha, Alvim, Dario, Alcides, Vaz e Tavares. 
Massinha e Alcides os jaguarenses da seleção.

Anos quarenta, era uma época em que a crônica esportiva ainda não havia nacionalizado o vocabulário corrente nas páginas dos jornais: o esporte das multidões era escrito e pronunciado como nas suas origens – foot-ball – ou então na linguagem dos mais pernósticos – soccer. As regras definiam situações ilegais tais como – off side. E na escalação dos teams - nem é bom falar – dizia-se keeper, half e forward (center). Havia se  instituído um colonialismo cultural que, a bem dizer, já se vinha arrastando por meio século. Mas o costume era tolerado assim mesmo, não obstante vez por outra surgisse algum nacionalista a falar de ludopédio...
Porém, se o noticiário esportivo era escasso nos jornais, transbordava nas rodas que se formavam em cada ponto de encontro – nas ruas, nos bares, nos clubes e até mesmo nas padarias. Havia, pois, um sabor diferente na preparação semanal que antecedia todo bom espetáculo futebolístico. A gente sentia que o amor à camiseta falava mais alto que os mil réis remunerativos dos profissionais ainda não mercenários – simples categoria a que se honravam de pertencer os mais notáveis. Os pavilhões de madeira, sociais como eram chamados, pareciam mais ecológicos do que estes monstrengos de concreto, hoje tão ociosos na maior parte da temporada e ainda mais vazios quando ocupados por uma torcida proporcionalmente menor em relação aos participantes das contendas. Nem se sentia o sacrifício de chegar mais cedo ao campo para conseguir o melhor lugar junto ao alambrado, já que havia a motivação de assistir a preliminar dos aspirantes.
Na Revista do Globo, de 22/11/1941, deparo-me com a Quinzena Desportiva, em que o jornalista Amaro Júnior trata do Campeonato Brasileiro de Foot-Ball e questiona se “os gaúchos conseguirão derrotar os paulistas?” Nessa matéria, aborda o reencontro do nosso selecionado com a representação de Santa Catarina em sua volta a Porto Alegre, em 09/11/1941, após doze anos  do último embate. E comenta sobre a evolução do futebol barriga verde, demonstrando “proficiência... alguma técnica e meticuloso preparo individual”. Apesar da vitória do Rio Grande do Sul pelo escore de 6 a 4, são ressaltados os seus fatores favoráveis de “melhor conhecimento do gramado, torcida e maior traquejo em prélios de envergadura”. Do primeiro gol assinalado por Carlitos que desempatou o jogo até o terceiro do conterrâneo Massinha, foram decorridos 10 minutos.
Amaro Júnior ainda arriscava prognósticos sobre o próximo adversário dos gaúchos que sairia de Pará x Paraná, “o qual deverá ser o da terra das araucárias... seu primeiro adversário de cartaz firmado”. O que não se confirmou em face de vitória dos paraenses por 2 tentos a l, em 22/11/1941 (Belém do Pará), os quais também foram batidos pelo nosso selecionado – 3x2 * (27/11/1941) – no Estádio do Pacaembu, da capital paulista. Esse saudoso cronista achava difícil passar pelos mineiros que já tinham vencido fluminenses (2x0 em 10/11/41 – B. Horizonte) e sergipanos (3x1 * em 15/11/1941 – S. Paulo), confirmando-se osso duro de roer com mais um apertado triunfo nosso de 5x4 *, em 29/11/1941, dois dias após no mesmo local do último prélio. Resultados * pelas quartas de final.
Relembrando 1936, quando Rio Grande do Sul eliminou Distrito Federal nas semifinais em melhor de três (3x3, 3x2 e 2x2) e se classificou para a final com São Paulo, saindo vice-campeão brasileiro (2x1, 1x3 e 1x2), colocava-se a possibilidade de repetir e superar esse desempenho. Embora garantido para as disputas com os paulistas, o selecionado gaúcho não teve melhor sorte do que as duas goleadas sofridas de 7x2 (3/12/1941) e 4x1 (6/12/1941) em São Paulo. Nas finais com os cariocas – SP 4x2 (10/12/1941) em S. Paulo, SC 4x3 (14/12/1941) e SP 1x0 (17/12/1941), no Rio de Janeiro, a equipe bandeirante se sagrou campeã do certame nacional daquele ano, “o maior de todos quantos já foram realizados, pois só o território do Acre não toma parte...”