quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Só mesmo Toni Dias - melhor do que a encomenda

Em Intimidade Devassada contei a história da lareira do Ruy Figueira em meio aos destroços da sua casa demolida que me inspirou aquele poemeto da ilustração. Depois disse ter enviado o mesmo para vários amigos, entre eles um compositor nativista que o recebeu justo no dia em que se estava separando da esposa e que até - não me prometia - tinha vontade de musicá-lo. Na ocasião, lembrei-me dos causos que o conterrâneo Sheldon Neves costumava contar-me sobre a Praça das Carretas, em Jaguarão, e da época áurea da cidade, quando era um importante centro comercial do Estado, devido ao seu porto fluvial recebendo navios de várias partes do mundo, os quais lá descarregavam suas cargas das mais diversas mercadorias. Dali eram embarcadas em carretas puxadas por juntas de bois e sendo conduzidas a outras cidades, entre as quais Bagé naquele tempo com seu abastecimento dependente da praça de Jaguarão.
Vai daí, lareira virou figueira e eu resolvi dar uma roupagem tradicionalista naqueles versos inconformados, cuja metamorfose tratei logo de passar às mãos daquele amigo, tendo então ele me respondido que não precisava ter agauchado. Assim, morreu o assunto.
Posteriormente, deixei essa letra com o esposo da minha sobrinha Hilda Pacheco, o Toni Dias, advogado durante o dia e cantor da noite em Florianópolis e qual não foi a minha surpresa quando me disseram que, tomando os ares da Laguna Merin, o santo tinha lhe baixado para colocar a melodia - de uma tacada só - em Praça das Carretas.
Passado algum tempo, a parceria tinha que sair melhor do que a encomenda e o Toni foi convidado a participar da gravação ao vivo no Bar Drakkar (Lagoa da Conceição/SC), em setembro de 2002, do CD Músicos da Ilha, incluindo no mesmo as composições de nossa parceria Praça das Carretas e Caravelas, esta última tendo sido bastante tocada na programação da Rádio da Universidade de Santa Catarina. Toni Dias (violão e voz), Beto Bacci (percussão), Marco Aurélio (trombone) e André Maia (baixo) foram as feras que tornaram real esse nosso sonho.
Tapumes, obras e prédios, / ainda resiste ali a figueira, /
antigamente ramada / de gaudérios estropiados, /
em volta das trempes, / a preparar o pouso.
E a memória perambula / nos tempos e nas distâncias, /
essas picadas abertas / pelo sulco de patas e rodas.
Parece até que se ouve / o pampeiro rangendo / por entre as carpas /
- causos, assombros, / hoje desgarrados / neste e noutros rincões.

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso aí, meu amigo. Aproveito esse momento de feliz recordação pra instigar a parceria. Quero receber mais pérolas suas pra ver se o santo baixa de novo.
Abraço forte.
Toni Dias